AUFWIEDERSEHEN, ALEMANHA (Chris Herrmann)



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A DOR DA DESPEDIDA E A SATISFAÇÃO DE VER MEUS FILHOS BEM
por Chris Herrmann

Não é mais segredo que depois de vinte e cinco anos na Alemanha eu resolvi retornar ao Brasil por motivos pessoais. Embora esta decisão tenha sido bem pensada, não é tão simples quanto parece, ainda mais quando se tem filhos. 

Se eles ainda fossem pequenos e dependentes de mim, não há dúvidas que iriam comigo ou que eu não sairia da Alemanha. Mas eles estão bem e têm vida própria. Nasceram na Alemanha e criaram raízes neste país. Enquanto foram pequenos, ficaram sempre comigo. Hoje são adultos e vivem na cidade onde nasceram, em Hilden, Alemanha.

Dia desses, minha filha conversou longamente comigo aqui em Duisburgo. Depois foi a vez do meu filho. É provável (como todo mundo) que eu tenha cometido erros na vida, mas não com meus filhos. Nem sei se mereço, mas tenho filhos extremamente carinhosos e compreensivos. Tão bons e generosos que me dói até à alma ter que ficar longe deles fisicamente. Porém, eles prometeram me visitar quando for possível tirar férias no trabalho.

Minha filha, 23, depois de dois anos nos EUA estudando e trabalhando, retornou à Alemanha e estuda e trabalha como “Erzieherin“ (Educadora). Ela sempre amou trabalhar com educação de crianças. Quando fui visitá-la nos EUA em 2019, fiquei impressionada com seu profissionalismo e independência. E o mais interessante foi sua preocupação em me proteger. Parecia minha mãe. Nunca imaginei que teria uma filha tão amorosa e protetora. 

Meu filho, 19, estuda e trabalha no Ministério da Fazenda alemã, sendo um dos mais jovens funcionários públicos. Na escola, ele sempre foi genial em matemática, embora fosse muito preguiçoso em fazer os exercícios de casa, rs. A professora dele no fundamental, uma vez me disse: se o seu filho fosse um pouquinho menos preguiçoso e caótico, chegaria à presidência da Alemanha. Morri de rir, porque ele realmente era o caos em pessoa, embora já tivesse um enorme coração. 

Hoje, tive duas boas notícias. Minha filha está procurando uma nova moradia mais confortável em Hilden. E o meu filho planeja aceitar ano que vem a oferta do Ministério da Fazenda alemã de cursar Economia com tudo pago, sem precisar desembolsar um tostão. 

Coincidência ou não, isso me pareceu um presente que eles quiseram me dar para que a despedida fosse menos doída. Eles estão bem e felizes no país que nasceram e viveram durante toda a vida. Aceitaram, embora surpresos e tristes, a minha decisão. Mas deixaram claro que apoiam e apoiarão sempre quaisquer decisões que eu tome, porque para eles, o importante é que eu me sinta e esteja bem, do jeito e aonde eu quiser.

Isso me fez lembrar o que disse uma vez a querida amiga e escritora Maria Valéria Rezende: “mesmo que dê tudo errado, já deu tudo certo.

Sei que irei em paz.